Jongo com Mestre Darcy da Serrinha
Os antigos dizem que o jongo é a “dança das almas”. Em volta da fogueira, sempre à noite, os velhos jongueiros eram capazes de realizar encantamentos com os passos misteriosos e os cantos enigmáticos, em linguagem cifrada, compreendidos apenas pelos versados na mandinga.
Vindo provavelmente da região de Benguela, onde o povo Ovimbundo dançava o “onjongo”, o jongo espalhou-se por Minas Gerais, São Paulo, Espírito Santo e Rio de Janeiro, áreas de marcante presença de escravos bantos. Com a decadência da lavoura cafeeira do Vale do Paraíba e a abolição da escravatura, um grande contingente de negros dirigiu-se para as zonas urbanas da cidade do Rio de Janeiro. Na bagagem, trouxeram a tradição da dança dos ancestrais.
Com a especulação imobiliária, a política de higiene sanitária e a reforma urbana da capital federal empreendida pelo prefeito Pereira Passos, no início do século XX, contingentes significativos de negros foram expulsos dos cortiços do centro da cidade e subiram os morros. Com eles foi o jongo, para os morros de São Carlos, Mangueira, Salgueiro e Serrinha. Neste último, principal reduto de jongueiros da cidade, nasceu, em 1932, Darcy Monteiro, o Mestre Darcy do Jongo, filho de Pedro Monteiro e da mãe-de-santo e jongueira Vovó Maria Joana Rezadeira.
Vindo provavelmente da região de Benguela, onde o povo Ovimbundo dançava o “onjongo”, o jongo espalhou-se por Minas Gerais, São Paulo, Espírito Santo e Rio de Janeiro, áreas de marcante presença de escravos bantos. Com a decadência da lavoura cafeeira do Vale do Paraíba e a abolição da escravatura, um grande contingente de negros dirigiu-se para as zonas urbanas da cidade do Rio de Janeiro. Na bagagem, trouxeram a tradição da dança dos ancestrais.
Com a especulação imobiliária, a política de higiene sanitária e a reforma urbana da capital federal empreendida pelo prefeito Pereira Passos, no início do século XX, contingentes significativos de negros foram expulsos dos cortiços do centro da cidade e subiram os morros. Com eles foi o jongo, para os morros de São Carlos, Mangueira, Salgueiro e Serrinha. Neste último, principal reduto de jongueiros da cidade, nasceu, em 1932, Darcy Monteiro, o Mestre Darcy do Jongo, filho de Pedro Monteiro e da mãe-de-santo e jongueira Vovó Maria Joana Rezadeira.
Mestre Darcy revelou-se, desde cedo, um puta percussionista. Aos 16 anos, já era músico profissional. Participou, adolescente, da fundação da Escola de Samba Império Serrano. Foi ele quem introduziu os agogôs na bateria do Império, até hoje marca registrada da escola. Acompanhou, como músico da Rádio Nacional, nomes do calibre de Mário Reis, Herivelto Martins, Ataulfo Alves, Marlene e Emilinha Borba. Só briga de cachorro grande.
Mais do que qualquer outra coisa, porém, Mestre Darcy se destacou como um tremendo militante da cultura afro-brasileira. Foi fundador, ao lado de Candeia, do Grêmio Recreativo de Arte Negra Quilombo, escola de samba que nos anos 70 buscou recuperar o sentido comunitário das agremiações tradicionais, desvirtuado pelo surgimento das “super-escolas de samba s.a” e seus trambolhos alegóricos, idealizados por bichas formadas nas escolas de Belas-Artes e com pouquíssima vivência da realidade dos sambistas.
Mais do que qualquer outra coisa, porém, Mestre Darcy se destacou como um tremendo militante da cultura afro-brasileira. Foi fundador, ao lado de Candeia, do Grêmio Recreativo de Arte Negra Quilombo, escola de samba que nos anos 70 buscou recuperar o sentido comunitário das agremiações tradicionais, desvirtuado pelo surgimento das “super-escolas de samba s.a” e seus trambolhos alegóricos, idealizados por bichas formadas nas escolas de Belas-Artes e com pouquíssima vivência da realidade dos sambistas.
Foi, entretanto, como jongueiro e divulgador do jongo que Mestre Darcy transformou-se em uma figura legendária. Percebendo que o jongo encontrava-se restrito a uma pequena parcela de participantes, e preocupado com os riscos do desaparecimento do ritmo e da dança dos seus ancestrais, fundou o grupo Jongo da Serrinha, com o objetivo de retomar, dinamizar e divulgar a tradição.
Com esta idéia, introduziu instrumentos de harmonia no ritmo, que até então era apenas percussivo, passou a ensinar a dança para as crianças e levou o jongo para os palcos de teatros do Brasil e do exterior. Para alguns, quebrou tabus e salvou o jongo do esquecimento; para outros, violou de forma irreversível a tradição. Quando indagado sobre isso, preferia dizer que rompia alguns princípios tradicionais para, no fundo, conseguir preservá-los.
(Minha opinião? Sinto muito, mas quem não pode com a mandinga não carrega o patuá. Não meto a mão nessa cumbuca de mais velho.)
Passou os últimos anos de sua vida ensinando o jongo, sobretudo para estudantes, ao mesmo tempo em que estimulava a prática entre as crianças do morro da Serrinha. Ressaltou o tempo todo a importância de se estudar música, mas sempre admitiu que os melhores tambozeiros que conheceu foram os ogãs das casas de candomblé e umbanda. Mestre Darcy foi, inclusive, o principal tocador de tambor da Tenda Espírita de Xangô, casa comandada por sua mãe, Vovó Maria Joana Rezadeira.
Passou os últimos anos de sua vida ensinando o jongo, sobretudo para estudantes, ao mesmo tempo em que estimulava a prática entre as crianças do morro da Serrinha. Ressaltou o tempo todo a importância de se estudar música, mas sempre admitiu que os melhores tambozeiros que conheceu foram os ogãs das casas de candomblé e umbanda. Mestre Darcy foi, inclusive, o principal tocador de tambor da Tenda Espírita de Xangô, casa comandada por sua mãe, Vovó Maria Joana Rezadeira.
Eu vi o Mestre pouco antes de seu encantamento. Forte feito touro, batendo no candongueiro como um menino travesso e com o olhar misterioso e a ginga encalacrada de todos os Exus.
Morreu no final de 2001, em um momento em que o jongo crescia e conquistava um significativo espaço de divulgação na mídia. Seu filho, Darcyzinho, assumiu o comando dos tambores.
Morreu no final de 2001, em um momento em que o jongo crescia e conquistava um significativo espaço de divulgação na mídia. Seu filho, Darcyzinho, assumiu o comando dos tambores.
Zâmbi falou que era a hora de chamar o tambozeiro que um dia anunciará, no rufar do angoma velho, a chegada da Noite Grande.
Mojubá.
Mojubá.
Seja o primeiro a comentar!
Leia as regras
Todos os comentários são lidos e moderados previamente.
São publicados aqueles que respeitam as regras abaixo:
- Seu comentário precisa ter relação com o assunto do post;
- Em hipótese alguma faça propaganda de outros blogs ou sites;
- Não inclua links desnecessários no conteúdo do seu comentário;
- Se quiser deixar sua URL comente utilizando sua OPenID;
Obs: Comentários dos (as) leitores (as) não refletem as opiniões do blog.